Não invasiva, técnica constitui uma alternativa no tratamento de determinados quadros de depressão
Portadores de depressão grave que não apresentam resposta satisfatória a terapias medicamentosas podem contar com mais uma opção de tratamento. Trata-se da estimulação magnética transcraniana (EMT), aprovada em 2012 pelo Conselho Federal de Medicina como prática médica no Brasil. Além de depressões uni e bipolares, a aplicação também foi aprovada para o tratamento de alucinações auditivas (esquizofrenia), planejamento de neurocirurgias e pesquisas experimentais. Nos Estados Unidos, a aprovação para essas indicações ocorreu em 2008.
A estimulação magnética transcraniana é uma modalidade de neuroestimulação superficial e focal, sendo o córtex frontal o principal alvo quando usada para o tratamento da depressão. A grande vantagem em relação a outras técnicas de estimulação cerebral é o fato de ser uma terapia focal, não invasiva e praticamente indolor (embora alguns pacientes possam sentir um pouco de desconforto). Além disso, apresenta baixo índice de reações adversas.
Ter sido aprovada pelo Conselho Federal de Medicina, porém, não faz da estimulação magnética transcraniana uma técnica de largo emprego. A indicação deve obedecer a rígidos critérios, que começam com a análise criteriosa do histórico do paciente. “Quadros de depressão que não tenham respondido adequadamente ao tratamento com medicamentos antidepressivos ou casos em que a medicação não é bem tolerada são, em princípio, fatores para recomendação da estimulação magnética”, diz a Dra. Mara Fernandes Maranhão, psiquiatra do Núcleo de Medicina Psicossomática do Einstein.
Avaliação criteriosa e cautela devem ser adotadas nos casos de indivíduos que foram anteriormente submetidos a neurocirurgias ou que usem marca-passo cardíaco. Igual cuidado deve ser dedicado a pacientes epiléticos, pessoas com histórico familiar de convulsões que tenham tido no passado alguma convulsão ocasional ou que façam uso de medicação que os deixem mais propensos a convulsões. Ainda assim, neurocirurgia, epilepsia, histórico familiar, convulsões e uso concomitante de antidepressivos não são contraindicações absolutas.
A maioria das indicações é feita para pacientes sem sintomas psicóticos. A terapia não é recomendada para adolescentes e gestantes, já que ainda não há estudos suficientes sobre eficácia e segurança nesses dois grupos.
Uma vez indicada, cabe ao médico, depois de realizar medições para determinar o exato local das aplicações, definir parâmetros como frequência e intensidade da carga a ser aplicada, com base na intensidade da patologia, idade e condições gerais do paciente. O procedimento pode ser ambulatorial, mas o local em que é realizado deve dispor de condições para assistência a possíveis complicações, entre elas as crises convulsivas. De acordo com a Dra. Mara, são ocorrências bastante raras, já que o médico utiliza rigorosos protocolos de segurança.
Durante a aplicação, o paciente permanece acordado e pode voltar para casa ao término da sessão. Uma leve dor de cabeça na área tratada costuma ser a principal reação adversa relatada. Em média, de 15 a 20 sessões, com 20 minutos de duração cada, são suficientes para uma melhora sensível da grande maioria dos pacientes, muitos dos quais com remissão total dos sintomas. Se o médico considerar adequado, a estimulação magnética transcraniana também pode ser indicada em associação com medicamentos antidepressivos.
Outras indicações
Além da indicação para o tratamento da depressão, a estimulação magnética transcraniana também foi aprovada no Brasil para aplicação em alucinações auditivas decorrentes da esquizofrenia. Nesse caso, a carga magnética estimula a região temporal para reduzir a hiperatividade naquela região, uma consequência da esquizofrenia. Outra aplicação aprovada foi para o planejamento de neurocirurgias. “A técnica auxilia no mapeamento da área para que o procedimento cirúrgico seja o mais preciso possível, reduzindo-se a ocorrência de sequelas”, destaca a Dra. Adriana Bastos Conforto, pesquisadora do Instituto do Cérebro do Einstein.
O Einstein não aplica a técnica para fins terapêuticos, mas a utiliza intensamente no desenvolvimento de pesquisas para aplicação em diversas finalidades – prática que também foi aprovada pelo Conselho Federal de Medicina. De acordo com a Dra. Adriana, há atualmente no Brasil e no mundo uma série de pesquisas em andamento, que visam estabelecer a eficácia e segurança da estimulação na recuperação de sequelas de acidente vascular cerebral (AVC) e no tratamento de várias patologias, como estresse pós-traumático, enxaqueca crônica, mal de Parkinson e transtornos alimentares.
Segundo o Ministério da Saúde, a depressão afeta hoje cerca de 10 milhões de brasileiros, com maior prevalência em faixas etárias mais elevadas. A Organização Mundial de Saúde, por sua vez, estima que até 2030 a depressão ocupará a posição de doença mais comum no mundo, responsável por mortes prematuras e anos produtivos perdidos devido ao potencial incapacitante. A estimulação magnética transcraniana pode trazer uma contribuição relevante para evitar a concretização dessa estimativa.
Deixar um comentário